Estudo do IAPAR aborda impactos do La Niña na agricultura paranaense e cuidados no plantio da safra de verão 20/10/2010 - 09:50

(05/10/2010) Além de amenizar as temperaturas e aumentar a umidade relativa do ar, as chuvas que incidem sobre o Paraná desde a última semana representam um momento importante para a agricultura do estado. Um estudo realizado por pesquisadores da área de Agrometeorologia do IAPAR mostra que, depois de um período de, aproximadamente, dois meses de estiagem, os produtores rurais devem aproveitar os índices mais elevados de precipitações para iniciar o plantio da safra de verão.

O pesquisador Paulo Henrique Caramori, um dos autores do texto, explica que o Paraná atualmente passa por um evento La Niña - ocasionado pelo resfriamento das águas do Oceano Pacífico-, de intensidade moderada a forte. Segundo ele, o fenômeno está estabelecido e deve atingir máxima intensidade durante o verão, perdurando até o próximo outono.

“Durante episódios de La Niña, observamos que as passagens das frentes frias sobre a Região Sul do Brasil são mais rápidas, com diminuição das chuvas e as temperaturas ficando ligeiramente abaixo da média climatológica”, afirma Caramori. “Há também uma maior irregularidade na distribuição das chuvas, com ocorrência de veranicos durante a primavera e o verão. As regiões litorâneas da região sul constituem uma exceção, com chuvas acima da média”, acrescenta.

O pesquisador esclarece que o Paraná está situado numa área de transição entre as regiões sul e sudeste, por isso apresenta resposta ao La Niña um pouco mais variável do que o extremo sul brasileiro. No entanto, para a região sul, de uma forma geral, há 20% de probabilidade de que as chuvas ocorram acima da média, 35% próximas à média e 45% abaixo da média, no trimestre outubro-dezembro.

“Essas previsões são apresentadas em termos probabilísticos, devido à grande complexidade de se modelar a atmosfera a longo prazo e, portanto, carregam um elevado grau de incerteza. Entretanto, indicam tendências que servem como alerta para se tomarem cuidados especiais, visando minimizar possíveis impactos negativos”, pondera Caramori. “Observamos que, no caso do Paraná, há indicativo de chuvas abaixo da média no período outubro a dezembro, quando se realiza o plantio e ocorre o estabelecimento das culturas da safra de verão”, completa.

Considerando os riscos de anomalias de chuvas no Paraná para a safra 2010-2011, o pesquisador afirma ser prudente adotar uma série de cuidados, visando diminuir os riscos de safra. Os dados são do estudo “O Fenômeno La Niña e a Agricultura do Paraná – Aviso Especial para a Safra 2010/2011”, de autoria de Paulo Henrique Caramori, Dalziza de Oliveira, Leocádio Grodzki, Heverly Morais, Wilian da Silva Ricce e Ângela Beatriz Costa.

Medidas de curto prazo:

- Fazer a semeadura escalonada dentro das épocas recomendadas pelo zoneamento agrícola, para que as fases mais sensíveis ao déficit hídrico não ocorram na mesma época. As portarias relativas ao zoneamento das principais culturas para a safra 2010/2011, publicadas pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento para o estado do Paraná, podem ser encontradas na página do MAPA na Internet (www.agricultura.gov.br) e também na página do IAPAR (www.iapar.br – Agrometeorologia / Zoneamento agrícola / Mapas); deve-se utilizar as cultivares recomendadas pelo zoneamento agrícola, se possível cultivares com ciclos diferenciados, posicionando a semeadura de cada cultivar em sua época mais apropriada e, quando disponíveis, cultivares mais tolerantes à seca.
- Fazer a semeadura somente após chuvas suficientes para suprir a deficiência de água no solo. Se o solo estiver seco, são necessários 30 a 40 mm para garantir a emergência.
- Contratar um seguro agrícola para proteção contra eventos climáticos extremos.
- Sempre que possível, fazer a diversificação das culturas.
- Evitar populações de plantas superiores ao recomendado.
- Realizar a adubação recomendada conforme análise do solo, de preferência aplicando o adubo em maior profundidade.
- Não queimar os restos culturais em hipótese alguma.
- Realizar cuidadoso manejo de pragas, especialmente as que atacam no início do ciclo em períodos com menor precipitação, como as lagartas elasmo e rosca. Cuidado com as pragas que atacam na época seca, como a lagarta do cartucho do milho.
- Fazer rigoroso controle de plantas invasoras que competem por água com a cultura.
- Racionalizar o uso da água na propriedade, utilizando orientação técnica para o manejo da irrigação das lavouras.

Medidas de médio e longo prazo:

- Realizar o planejamento da propriedade, tendo em mente a convivência com estiagens e enchentes, que são fenômenos cíclicos característicos do clima regional.
- Readequar o terraceamento da propriedade, visando a proteção contra a erosão dos solos e também a manutenção da água no local, para infiltrar e abastecer o lençol freático.
- Utilizar o sistema de “cultivo mínimo” ou “plantio direto na palha”, intensificando as práticas agrícolas que visam melhorar a retenção de umidade no solo, incluindo a cobertura do solo com restos culturais, adubação verde ou orgânica e mínimo revolvimento do solo.
- Utilizar a rotação de culturas e plantio de adubos verdes, nunca deixando o solo exposto, com o objetivo de protegê-lo e de repor sua matéria orgânica, aumentando assim sua capacidade de armazenamento de água.
- Diversificar as atividades na propriedade rural, incorporando culturas permanentes e florestas, que possuem menores riscos climáticos.
- Dimensionar as criações de acordo com a disponibilidade de água, manejo dos dejetos e disponibilidade de alimentos, descartando os animais improdutivos.
- Manter reservas de forragens para uso emergencial, com estoques necessários para vencer os períodos adversos.

Em relação ao manejo da água:

- Organizar-se para o abastecimento coletivo de água, principalmente por meio de fontes e água dos rios, implantando centrais de tratamento e redes de distribuição de água.
- Construir ou aumentar depósitos de água (açudes e cisternas).
- Coletar e armazenar a água da chuva.
- Manutenção constante dos bebedouros para os animais (limpar, revisar e cercar).
- Verificar vazamentos nos bebedouros, açudes e cisternas.

Em relação ao ambiente:

- Reflorestar as áreas de maior declividade.
- Implantar, repor e proteger com cerca a mata ciliar ao redor de nascentes, córregos e rios.
- Isolar os rios, riachos, açudes e bebedouros, evitando o acesso direto dos animais.

Fonte: IAPAR