Entrevista com Tenente Marcos Vidal, que esteve no Japão representando a Defesa Civil Estadual 21/02/2014 - 17:46

No início de janeiro, o Tenente Marcos Vidal da Silva Junior, da Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil, viajou ao Japão para realizar um curso de especialização na área de desastres. Ele foi um dos selecionados pela Japan International Cooperation Agency (JICA) – Agência de Cooperação Internacional do Japão – para participar do curso, Raising Awareness of Disaster Reduction (aumentando a consciência sobre Redução de Desastre).

O curso possui duração de um mês e contempla conteúdos que visam demonstrar as ações que o Japão possui no que diz respeito à consciência que a população possui sobre os riscos dos desastres.

Acompanhe a entrevista realizada com o Tenente Vidal:

1 - Como ocorreu a seleção para participar do curso.

A seleção é feita pela própria JICA.  Primeiramente o interessado deve fazer a inscrição para o curso preenchendo os formulários que estão disponíveis no site. Após preencher e providenciar os documentos necessários, eles devem ser enviados ao escritório da JICA no Brasil, que os enviará à sede da organização no Japão. Lá eles fazem a triagem e a escolha, de acordo com as vagas disponíveis para o curso. É importante lembrar que todos os cursos disponíveis podem ser visualizados no website do branch da JICA no Brasil, e todas as informações sobre a realização do curso, vagas, etc., ficam discriminados nos descritivos dos cursos.

 

2 - O senhor já havia realizado algum curso pela JICA?

Não. Já havia ouvido falar sobre pessoas que haviam realizado curso pela JICA, uma palestra do Major Wilson sobre o curso de combate a incêndio que ele fez. Isto me trouxe interesse para realizar cursos fora do país.

 

3 - Está foi sua primeira visita ao Japão, como foi a experiência de estar lá, conhecer a cultura e dividir conhecimento com outros participantes de várias nacionalidades?

Sim, nunca havia ido ao Japão. A experiência, como se pode esperar, foi excelente. A cultura é muito interessante e, toda vez que você precisa se deslocar da sua realidade para entender a realidade do outro, você é levado a refletir sobre si mesmo e sobre todo o contexto em que vive. Isto acontece durante todo o momento, e com pessoas de vários países diferentes, por exemplo, havia pessoas da América Latina como Chile e Honduras, Oriente Médio como Turquia, e vários países da Ásia como Filipinas, Samoa, Myanmar, e Vietnam. Ou seja, é possível perceber vários pontos de vista diferentes, mas mesmo assim, todos com o mesmo objetivo, de trazer melhorias para seu país.

 

4 - Durante 1 mês o senhor permaneceu em curso, o que trás de novidades para o Paraná?

Primeiramente, é preciso dizer que o Paraná está bem organizado no que se refere a resposta a desastres. Precisaremos agora investir em estudos e estruturas preventivas. O que me chamou muito a atenção é: primeiramente a organização com que eles desenvolvem seus trabalhos, estabelecendo os objetivos e realizando as ações para se alcançar aquele objetivo; em segundo lugar, a quantidade de órgãos existentes para estudar e desenvolver ações sobre desastres é muito interessante, por exemplo, em Osaka, há um centro de estudos sobre tsunamis no qual eles já tem estudos realizados sobre um terremoto de grande intensidade que deve acontecer nos próximos anos, e que causará uma tsunami que atingirá Osaka. Neste estudo, eles possuem projeções de tempo para o atingimento de cada local da cidade, bem como quais os prováveis locais a serem atingidos, mapas demonstrando estas situações, maquetes sobre as estruturas existentes para controle, e assim por diante. Logo, há um grande investimento na coleta de informações sobre desastres, bem como sobre as ações que devem ser desenvolvidas com base nas informações que foram averiguadas.

Além disto, o roll de informações que o curso proporcionou foi imensa, trazendo o trabalho que é desenvolvido com as comunidades e escolas, organização das estruturas públicas responsáveis pela criação de conhecimento sobre desastres, e a ação da mídia no que se refere a desastres. Ou seja, é grande a gama de instituições.

 

5 - Ao seu ver, qual foi o ganho que o Estado teve com sua participação no curso?

Toda forma de conhecimento auxilia no desenvolvimento dos trabalhos desenvolvidos pela Coordenadoria Estadual de Proteção e Defesa Civil. Além disso, para que haja êxito na conclusão do curso, cada participante deve confeccionar um plano de ação para realizar em seu país. Como desenvolvo funções na Seção Operacional da CEPDEC, desenvolvi meu plano de ação baseado em questões de contingência que poderão ser abordadas. Assim, devem ser implementadas ações relacionadas com o treinamento de populações e de profissionais ligados à defesa civil, de maneira que possam disseminar este conhecimento e melhorar o panorama geral da resiliência da população a desastres.

 

6 - Dentro dos assuntos abordados quais são compatíveis com os fenômenos paranaenses?

A apresentação do curso focou sobre os principais e maiores desastres acontecidos no Japão, o Terremoto de Hanshin-Awaji, acontecido em janeiro de 1995, e o Grande Terremoto do Leste do Japão, que causou as tsunamis em março de 2011. Não obstante os fenômenos diferentes dos que acontecem no Paraná, o foco do curso era “como envolver a comunidade e aumentar seu conhecimento sobre o risco de desastre”, de maneira que a própria população se conscientize de ações que ela deve desenvolver, e auxilie na organização e nas ações de proteção dela e da sua comunidade.


A partir dos conhecimentos e experiências japonesas, percebo a necessidade de envolver as pessoas profundamente nos conhecimentos sobre sua própria proteção, a necessidade de desenvolver treinamentos com elas e de criar uma cultura prevencionista. Houve muitas perdas de vidas em virtude de desastres por falta de treinamento das pessoas, de maneira que elas não sabiam o que fazer a partir dos alarmes dados pelas autoridades. Assim, é primordial uma organização social que ultrapasse as ações do governo e incida diretamente sobre a população, e não só a que provavelmente será afetada pelo desastre (principalmente, mas não somente), mas toda a população, pois o desastre não avisa quando acontecerá pode sempre superar nossas expectativas. 

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